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Crianças que falam, mas não se comunicam: o novo desafio da era digital

04/12/2025
Crianças que falam, mas não se comunicam: o novo desafio da era digital
Fotos: Especialista da UniCesumar ressalta a importância do equilíbrio do uso da tecnologia com estímulos que promovam vínculos, interação e o pleno desenvolvimento das crianças em um mundo conectado

Na era digital, um fenômeno preocupante tem ganhado destaque: o aumento no número de crianças que começam a falar cedo, mas enfrentam dificuldades para sustentar conversas, compreender emoções ou interagir socialmente. De acordo com Mariana Ferraz Conti Uvo, professora do curso de Fonoaudiologia da UniCesumar , essas mudanças no desenvolvimento da comunicação infantil refletem o impacto de um estilo de vida cada vez mais mediado por telas e menos baseado em interações presenciais.

“A fala e a comunicação são habilidades distintas. Muitas crianças conseguem produzir palavras ou frases, mas têm dificuldade em usá-las de forma funcional, direcionada ou interativa. Isso está diretamente relacionado à menor qualidade na interação verbal, provocada pelo tempo excessivo de tela e pela redução de estímulos presenciais”, explica a especialista.

Estudos recentes, como a revisão sistemática “The Relationship between Language and Technology: How Screen Time Affects Language Development in Early Life”, publicada na revista científica Brain Sciences, confirmam a conexão entre o uso precoce de telas e atrasos no desenvolvimento da linguagem. Uma pesquisa realizada no Ceará, intitulada de “Screen time and early childhood development in Ceará, Brazil”, da revista BMC Oublic Health, por exemplo, revelou que crianças de até cinco anos com tempo excessivo de tela apresentaram menores escores no domínio da comunicação, além de déficits em resolução de problemas e habilidades socioemocionais. Por fim, o estudo internacional “Screen Time at Age 1 Year and Communication and Problem-Solving Developmental Delay at 2 and 4 Years”, publicado na revista JAMA Pediatrics, indica que a qualidade do conteúdo consumido — como materiais educativos acompanhados por um adulto — pode mitigar esses impactos negativos, enquanto a exposição passiva às telas tende a amplificar as dificuldades.

Mas, afinal, o que significa dizer que uma criança “fala, mas não se comunica”? Mariana explica que “na prática, isso quer dizer que a criança pode ter o vocabulário básico, mas não inicia conversas, não mantém um tópico, não faz perguntas e não ajusta sua fala ao contexto ou ao interlocutor. Ou seja, falta à comunicação o aspecto pragmático e interativo”.

Entre os sinais de alerta que pais e responsáveis devem observar estão a ausência de palavras significativas até os dois anos, dificuldades em interagir durante brincadeiras ou rotinas, repetição mecânica de palavras ou sons (sem engajamento espontâneo), e problemas no uso de gestos como apontar ou estabelecer contato visual antes de falar. Para casos mais graves, como regressão nas habilidades comunicativas, é essencial buscar avaliação profissional com um fonoaudiólogo.

Apesar dos desafios impostos pela era digital, há soluções acessíveis para prevenir ou minimizar essas dificuldades. Atividades simples como narrar tarefas diárias, incentivar conversas durante as refeições, ler livros juntos e brincar de “faz de conta” fortalecem os laços comunicativos. A professora da UniCesumar destaca que não basta reduzir o tempo de tela, é preciso promover interações de qualidade. “Supervisionar o conteúdo consumido pelas crianças e transformar o tempo de tela em oportunidades de conversa são estratégias essenciais”.

Mariana reforça que existem “janelas sensíveis” no desenvolvimento da linguagem, especialmente nos primeiros anos de vida, quando a plasticidade cerebral favorece a aquisição de habilidades linguísticas e sociais. Por isso, quanto mais cedo os estímulos adequados forem introduzidos, melhores serão os resultados no longo prazo.

“Na era digital, mais do que nunca, precisamos resgatar a importância da interação humana para o desenvolvimento saudável das crianças. É no contato direto, no olhar, na troca de turnos durante uma conversa, que a linguagem ganha significado e a comunicação se torna uma ferramenta para compreender e se conectar com o mundo”, conclui a docente da UniCesumar.

Sobre a UniCesumar

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Fonte: Assessoria