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Comida afetiva: Sabor da casa da avó vira referência na gastronomia alagoana

27/10/2025
Comida afetiva: Sabor da casa da avó vira referência na gastronomia alagoana

Nathália Conrado

Outubro é o mês em que se celebra o orgulho nordestino. No dia 8, o país comemorou o Dia do Nordestino, data que exalta a força, a cultura e os sabores de uma região que transforma tradição em identidade. Em Maceió, essa celebração ganha sabor especial no restaurante ÔXE, onde a memória e a inovação se misturam em cada prato. À frente da casa está Rodrigo Aragão, professor de História que trocou o quadro negro pelas panelas e fez da cozinha um lugar de afeto, ancestralidade e resistência.

A história começou de forma despretensiosa, em 2015, quando Rodrigo ajudava amigos em um pequeno food truck. À época, ainda professor, ele entrou apenas para dar uma força, mas foi a experiência ali, entre fogões e risadas, que o fez descobrir sua nova vocação. Pouco tempo depois, decidiu largar as salas de aula, fazer um curso de cozinheiro no Senac e mergulhar de vez no universo da gastronomia.

“Eu gostava de cozinhar, mas não era cozinheiro. Ajudando no food truck, percebi que aquilo me fazia feliz. Quando o pequeno negócio virou restaurante, entendi que era isso que eu queria pra vida”, conta Rodrigo.

Após o início modesto, veio a bagagem profissional. Ele passou por cozinhas renomadas em São Paulo, como o D.O.M, o Mocotó e o Cór - uma das primeiras casas de maturação a seco de carnes do país, as chamadas Dry Aged. Essa vivência aprimorou o olhar técnico e despertou uma inquietação: como levar a cozinha nordestina para outro patamar sem perder o sabor de casa?



De volta a Maceió, em 2018, Rodrigo assumiu definitivamente o comando do ÔXE. A casa, hoje instalada em uma antiga residência no bairro da Jatiúca, guarda no ambiente e no cardápio a essência de suas origens: é uma homenagem à avó, à família e às memórias que temperam a sua vida.

“A ideia sempre foi criar um ambiente onde o cliente pudesse se sentir em ‘casa’. O ÔXE é o reflexo da casa da minha avó. Aqui, tudo tem um pouco dela. A comida, o cheiro, o aconchego. Quero que as pessoas tenham essa experiência, sem formalidades, sem a tensão comportamental que às vezes um restaurante traz”, diz o chef, enquanto aponta os familiares espalhados no quadro de colaboradores do ÔXE. O pai, a mãe e o tio também trabalham com ele, reforçando o caráter afetivo que dá alma ao negócio.

Inovação inspirada

No cardápio, pratos que contam histórias. O arroz de leite com paçoca de charque nasceu da lembrança das sextas-feiras em família, quando a avó preparava o arroz de leite e, em outros dias, a paçoca de charque. “Ela nunca fazia os dois juntos, porque não comia carne na sexta. Então eu juntei e fiz pra todo mundo”, lembra o chef, sorrindo.

Outras criações, como a cartola ÔXE e o queijo brazulaque empanado, servido com mel de engenho, mostram o lado inovador de Rodrigo, que busca valorizar ingredientes locais, como a semente de imburana, o queijo coalho e a tapioca, e transformar receitas tradicionais em experiências únicas. Ele defende o uso de produtos regionais, como o sorvete de tapioca artesanal da sorveteria Belo Monte e o queijo brazulaque, produzido em Viçosa, como forma de movimentar a economia e preservar sabores alagoanos.

“É outra relação quando a gente trabalha com quem está perto. O produto chega fresco, e a gente contribui para que esses pequenos produtores cresçam junto com a gente”, afirma.



Conexão produtor x empreendedor

Entre os fatores que fortaleceram o negócio está a participação de Rodrigo nas rodadas de negócios promovidas pelo Sebrae. Foi nesses encontros que ele descobriu novos fornecedores e ampliou sua rede de contatos, encontrando desde produtores de camarão até quem fabrica leite de coco artesanal.

“Essas rodadas são fundamentais. A gente conhece gente boa, que trabalha com seriedade, e que, talvez, eu nunca encontrasse de outra forma. O Sebrae tem esse papel importante de aproximar quem produz e quem transforma”, explica.

A conexão com pequenos produtores é hoje um dos diferenciais do ÔXE, que não se limita apenas a servir comida: celebra histórias, culturas e modos de vida que resistem no tempo.

Tradição que se reinventa

Prestes a completar dez anos, o ÔXE representa uma nova fase da gastronomia nordestina em Alagoas. Rodrigo compreende que, para sobreviver em um mercado competitivo, é preciso inovar sem abandonar as raízes.

“Durante muito tempo, restaurantes de comida regional fecharam porque não se reinventaram. A gente sobreviveu porque se abriu para o novo, mas mantendo o que somos. A comida tem que emocionar, contar uma história.”

Com o crescimento do turismo em Maceió, o chef acredita que o futuro da gastronomia alagoana está justamente na autenticidade. “As pessoas querem sentir o sabor da nossa terra, viver essa experiência de aconchego. A comida nordestina é a que há de melhor no mundo, só precisa ser mostrada com orgulho.”
No ÔXE, a história continua sendo escrita a cada prato servido: uma celebração da memória, da cultura e da força de um povo que transforma o cotidiano em sabor.



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Fonte: Assessoria