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Alckmin em evento que marca 50 anos da morte de Herzog: “Não esquecer para jamais se repetir”

27/10/2025
Alckmin em evento que marca 50 anos da morte de Herzog: “Não esquecer para jamais se repetir”
Fotos: O presidente em exercício, Geraldo Alckmin, durante discurso no ato em memória às vítimas da ditadura na Catedral da Sé: compromisso com a justiça e a democracia | Cadu Gomes/VPR

“Não esquecer para jamais se repetir”. A frase do presidente da República em exercício, Geraldo Alckmin, resume o tom de um evento realizado na noite deste sábado, 25 de outubro, na Catedral da Sé, no centro de São Paulo. O 'Ato Inter-religioso - 50 Anos por Vlado’, dedicado às vítimas da ditadura militar brasileira, homenageou a memória do jornalista Vladimir Herzog, torturado e morto nas dependências do DOI-CODI, em São Paulo, em 25 de outubro de 1975. Homenagem que teve tom ainda mais simbólico porque reeditou, no mesmo local, um evento ecumênico de 50 anos atrás.

Nem a mais covarde das mentiras, forjada pela mais vil das tiranias, foi capaz de apagar a verdade truculenta que se abatera sobre o país. Assim como, na defesa da verdade, não houve lugar para a farsa do suicídio, da mesma forma, por amor à liberdade, jamais haverá lugar para o nosso esquecimento”, Geraldo Alckmin, presidente da República em exercício.

“Há 50 anos, ao fim de um ato inter-religioso nesta mesma catedral, uma multidão saiu às ruas em silêncio. O silêncio não foi derivado do medo nem da omissão. Pelo contrário, representou o mais eloquente protesto, o mais retumbante grito de “basta” que merecia ser ouvido pela cruel ditadura. Aquela multidão silenciosa que saiu desta igreja fez desta Santa Sé o ponto inicial da caminhada pela redemocratização do Brasil”, ressaltou Alckmin, durante o evento que lotou a catedral no centro da capital paulista.

Naquela ocasião, um ato realizado sete dias após a confirmação da morte de “Vlado” reuniu cerca de 8 mil pessoas na região da catedral, sob comando de líderes como o cardeal dom Paulo Evaristo Arns, o rabino Henry Sobel e o reverendo Jaime Wright. A versão oficial quis fazer crer que Herzog havia cometido suicídio no cárcere, mas a farsa não se sustentou.

“Nem a mais covarde das mentiras, forjada pela mais vil das tiranias, foi capaz de apagar a verdade truculenta que se abatera sobre o país. Assim como, na defesa da verdade, não houve lugar para a farsa do suicídio, da mesma forma, por amor à liberdade, jamais haverá lugar para o nosso esquecimento”, afirmou Alckmin.

Na época do crime, Herzog exercia a direção de jornalismo da TV Cultura. Procurado pelos militares na emissora em 24 de outubro, o jornalista combinou que estaria disponível na manhã do dia 25 para interrogatório. Vlado, como era conhecido, compareceu espontaneamente à sede do DOI-Codi na Vila Mariana, para depor. Ali, foi assassinado.

COMPROMISSO – Filho de Herzog, Ivo Herzog destacou que a presença de Alckmin no evento reafirma o atual compromisso do Estado brasileiro com a democracia. “Há 50 anos, quando mais de 8 mil pessoas vieram a essa catedral demonstrar a indignação contra a barbárie cometida contra o meu pai, havia medo do Estado. Havia dezenas de atiradores de plantão aguardando que qualquer manifestação justificasse um massacre", lembrou. "Hoje, na pessoa do presidente em exercício Geraldo Alckmin, temos o Estado de mãos dadas com a gente, para reafirmar o compromisso com a democracia, com a justiça, com os direitos humanos, com a verdade.”

HISTÓRIA E MEMÓRIA – Dezenas de pessoas que estiveram no primeiro ato e voltaram para a catedral 50 anos depois foram aplaudidas de pé. Também compareceram ao evento organizado pelo Instituto Vladimir Herzog e a Comissão Arns religiosos, parlamentares, artistas, jornalistas e representantes de instituições que defendem os direitos humanos e causas humanitárias.



Primeira mulher a ocupar a presidência do Superior Tribunal Militar, Elizabeth Rocha pediu perdão pelos erros e omissões judiciais durante o período da ditadura: 'perdão a todos os que tombaram e sofreram lutando pela liberdade'. Foto: Cadu Gomes / VPR

Há 50 anos, quando mais de 8 mil pessoas vieram a essa catedral demonstrar a indignação contra a barbárie cometida contra o meu pai, havia medo do Estado. Hoje, na pessoa do presidente em exercício Geraldo Alckmin, temos o Estado de mãos dadas com a gente, para reafirmar o compromisso com a democracia, com a justiça, com a verdade”, Ivo Herzog, filho de Vladimir Herzog.

SIMBOLOGIAS – Na cerimônia, houve apresentações do Coro Luther King, seguida de manifestações inter-religiosas com a presença de dom Odilo Pedro Scherer, da reverenda Anita Wright - filha de Jaime Wright, e do rabino Rav Uri Lam. O ato foi intercalado por músicas executadas pelo coral e discursos. Uma das falas mais aplaudidos foi a da presidente do Superior Tribunal Militar, Maria Elizabeth Rocha, primeira mulher a ocupar a liderança da instituição, que fez um pedido de perdão pelos erros e omissões judiciais cometidos ao longo do período da ditadura.

PERDÃO – “Estou presente neste ato ecumênico de 2025 para, na qualidade de presidente da Justiça Militar da União, pedir perdão a todos os que tombaram e sofreram lutando pela liberdade. Pedir perdão pelos erros e as omissões judiciais cometidas durante a ditadura. Peço perdão a Vladimir Herzog e sua família, e a tantos outros homens e mulheres que sofreram com as torturas, as mortes, os desaparecimentos forçados e o exílio”, afirmou Elizabeth. “Eu peço, enfim, perdão à sociedade brasileira e à história do país pelos equívocos judiciários cometidos pela Justiça Militar Federal em detrimento da democracia e favoráveis ao regime autoritário”, completou.

VALORES SAGRADOS – Para o presidente em exercício, a memória de Herzog segue viva e evoca a promessa de defender os valores sagrados da vida, da liberdade e dos direitos humanos. “Por isso, reafirmo aqui, em nome do presidente Lula e em meu próprio, a nossa promessa e, muito mais que promessa, o nosso inabalável compromisso e perseverante empenho na defesa da verdade, da justiça e da democracia”, afirmou Alckmin, que concluiu.

COMUNHÃO – “A comunhão da fraternidade, que hoje também aqui se celebra, é a mesma que precisa definitivamente ser realizada em nosso país. É a que deriva da real e duradoura compreensão de que somos um só povo, que devemos aprender com as lições que a história nos legou, e que podemos, sim, alcançar juntos o ideal de realizar um sonho comum de futuro. É inegável a verdade que ouvi certa vez ser dita de que, sem fraternidade, não há ecumenismo, e sem ecumenismo, não há comunhão”.





Fonte: Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República