Geral
Fórum de Powershoring é anunciado em Fortaleza para acelerar investimentos sustentáveis e consolidar o Nordeste como polo de transição energética
Dois importantes marcos para a transição energética no Brasil foram anunciados no seminário Como Escalar e Acelerar os Investimentos Sustentáveis no Nordeste: As Oportunidades do Powershoring, organizado pelo Consórcio Nordeste, pelo Banco do Nordeste do Brasil (BNB) e pelo Instituto Clima e Sociedade (iCS) nesta quinta-feira (23), em Fortaleza. O primeiro é a criação do Fórum Interinstitucional de Powershoring, uma plataforma estratégica que visa coordenar esforços para atrair, viabilizar e acelerar cadeias produtivas verdes baseadas no enorme potencial energético da região Nordeste; e o segundo é um acordo de cooperação entre o Instituto Clima e Sociedade (iCS) e o Estado do Sergipe.
"O Nordeste tem um diferencial enorme, não apenas do ponto de vista nacional, mas do ponto de vista internacional, que é a abundância de energia renovável, seja eólica, solar ou biomassa. E este seminário sobre powershoring, ou seja, sobre a possibilidade de atrair investimentos a partir dessa potencialidade natural, é um ponto fundamental para prepararmos nossa região para a virada na matriz industrial. Nós, governadores e governadoras, estamos conscientes de que este momento de transição energética é a principal oportunidade para uma verdadeira industrialização do Nordeste, baseada em nossas vocações naturais”, afirma Rafael Fonteles, presidente do Consórcio Nordeste e governador do Piauí.
O Fórum atuará como espaço permanente de cooperação entre governos, setor privado, financiadores, organismos multilaterais, centros acadêmicos e sociedade civil. Para isso, contará inicialmente com um Comitê Gestor com função de ancoragem política e institucional; um Secretariado Executivo de coordenação técnica; e Grupos de Trabalho temáticos, com foco em uma gama de temas, como infraestrutura e logística verde; atração de investimentos; cadeias de valor e financiamento.
“Apesar do potencial global das nossas soluções energéticas, é essencial criar cadeias de valor, aumentar a produtividade e gerar retorno para a população do Nordeste. Também precisamos atrair mais investimentos, melhorar a infraestrutura, discutir a armazenagem de energias alternativas e explorar as oportunidades de um setor onde temos grande vantagem competitiva, com recursos humanos e portos estratégicos. Com grupos de trabalho específicos, o Fórum pode ajudar a desenvolver soluções integradas em infraestrutura e investimentos, garantindo a continuidade e a institucionalização dessa agenda a longo prazo”, explica Maria Netto, diretora executiva do iCS.
O acordo firmado entre o iCS e o Estado de Sergipe, por meio da agência de desenvolvimento Desenvolve-SE, visa apoiar a agenda de transição energética e o desenvolvimento industrial verde no estado. Para Milton Andrade, presidente da agência, esse movimento, que inclui instrumentos financeiros habilitadores, representa um grande avanço para Sergipe. “Uma alegria assinar um instrumento tão importante, que toma forma para que possamos seguir na construção do PSDI Verde, o Programa Sergipano de Desenvolvimento Industrial, mas com foco na economia verde, no nosso fundo soberano e na descarbonização da indústria sergipana", afirmou Andrade.
Com o objetivo de atrair e desenvolver novos negócios da indústria de baixo carbono, o evento discutiu a possibilidade de o Nordeste se tornar referência global em soluções climáticas que aliam crescimento econômico, criação de empregos verdes e fortalecimento da governança local com impactos na governança global.
"O BNB é um dos maiores financiadores da transição energética no País e já está definido que vamos reforçar a transmissão, não só com as grandes linhas entre regiões, mas fortalecer a estrutura intrarregional. O Ceará, por exemplo, figura como grande potencial produtor de hidrogênio verde (H2V), mas ainda carece de infraestrutura para essa energia ser consumida e gerar novos negócios dentro do Nordeste", avalia Aldemir Freire, diretor de Planejamento do Banco do Nordeste (BNB).
O seminário abordou ainda os caminhos para concretizar esse potencial, focando em fortalecer um ambiente de negócios favorável, estruturar projetos qualificados e desenvolver instrumentos financeiros inovadores para alavancar investimentos. Um dos temas destacados foi a visão dos investidores, nacionais e internacionais, sobre powershoring, especialmente da China, que hoje é líder na indústria de descarbonização. O executivo Frank Yu, da Envision Energy, ressaltou que o Brasil reúne condições únicas para atrair investimentos e se consolidar como um polo industrial verde, destacando o potencial de integração entre a geração renovável e a produção local. “Ficamos muito impressionados com os recursos disponíveis aqui. Há muita energia hidrelétrica, solar e eólica. No Nordeste, 95% da matriz já é verde — isso significa que a indústria não precisa de nada especial: o produto já nasce certificado como verde”, afirmou.
Chen Mingming, CFO da State Grid Brazil Holding, destacou o desafio e a importância da transmissão de energia renovável, o potencial de transformar a infraestrutura energética do país, enfatizando que "o Brasil pode se tornar líder mundial nesse setor".
“O desafio hoje está na transmissão: conectar a energia renovável a uma rede elétrica maior. Nesse sentido, estamos tentando construir a maior linha de transmissão já feita, do Nordeste a Goiás, para levar essa energia renovável da região à rede central do país. O projeto vai exigir R$ 23 bilhões de investimentos, gerar R$ 1,5 bilhão em impostos e criar mais de 30 mil empregos diretos, com capacidade total de 5 gigawatts. Isso representa quase 40% de toda a capacidade de transmissão existente do Nordeste para o mercado brasileiro”, explica Mingming.
O conceito de Powershoring foi criado pelo professor de economia da Universidade de Brasília Jorge Arbache, que se refere à realocação da produção industrial para regiões próximas de fontes de energia renovável abundante e competitiva. Foram debatidos ainda temas como estratégias regionais para a consolidação da agenda, mecanismos de financiamento e o papel dos marcos institucionais para impulsionar o desenvolvimento.
São parceiros do evento o UK Partnering for Accelerated Climate Transitions (UK PACT); o Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (FUNBIO); o Instituto E+ Transição Energética; o CEBDS - Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável; e o Conselho Empresarial Brasil China (CEBC).
Sobre o Consórcio Nordeste
O Consórcio foi criado em 2019 para ser o instrumento jurídico, político e econômico de integração dos nove Estados da região Nordeste do Brasil, um território de desenvolvimento sustentável e solidário neste momento de grandes desafios. O Consórcio é uma iniciativa que pretende atrair investimentos e alavancar projetos de forma integrada, constituindo-se, ao mesmo tempo, como uma ferramenta de gestão criada e à disposição dos seus entes consorciados, e como um articulador de pactos de governança. Dentre as possibilidades abertas com a criação do Consórcio, estão a realização de compras conjuntas, a implementação integrada de políticas públicas e a busca por cooperação, também em nível internacional.
Sobre o Banco do Nordeste do Brasil (BNB)
O Banco do Nordeste foi criado pela Lei Federal nº 1649, de 19.07.1952, para atuar no chamado Polígono das Secas, designação dada a perímetro do território brasileiro atingido periodicamente por prolongados períodos de estiagem. A empresa assumia então a atribuição de prestação de assistência às populações dessa área, por meio da oferta de crédito. Em mais de 70 anos de história, o Banco teve sua atuação ampliada: está presente em cerca de 2 mil municípios, abrangendo toda a área dos nove estados da Região Nordeste (Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia), além de parte de Minas Gerais (incluindo os Vales do Mucuri e do Jequitinhonha) e o norte do Espírito Santo. Mantém a liderança na aplicação de recursos de longo prazo e de crédito rural em sua área de atuação.
Sobre o Instituto Clima e Sociedade (iCS)
O Instituto Clima e Sociedade é uma organização filantrópica que apoia o enfrentamento das mudanças climáticas, com foco no Brasil, por meio do emprego de um rol amplo de abordagens e ferramentas que vão desde o apoio institucional e financeiro a organizações sem fins lucrativos, passando por apoio ao desenvolvimento de pesquisas técnicas e científicas, formação de redes e desenvolvimento de capacidades em diferentes segmentos econômicos da sociedade brasileira.
Fonte: Assessoria