Cem Mutuns-de-alagoas, totalizando 50 casais, estão sendo preparados em cativeiro para iniciarem a reprodução que vai permitir a soltura de seus filhotes, na idade adequada, nas matas alagoanas. Trata-se do “Projeto 50 Casais de Mutuns”, do Ministério Público do Estado de Alagoas (MPAL), coordenado pela 4ª Promotoria de Justiça da Capital (Defesa do Meio Ambiente).

Além da parceria de órgãos públicos e entidades do terceiro setor, o projeto conta com o apoio da iniciativa privada, por meio da empresa Nacional Gás, do Grupo Edson Queiroz, do setor de envase de GLP em botijões de uso doméstico, situada no Tabuleiro dos Martins, em Maceió.

Como parte de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) firmado no âmbito do MPAL, a empresa irá transferir sua planta industrial de Maceió para uma área de expansão no município de Pilar, distante de residências, mantendo os empregos dos trabalhadores e, ao mesmo tempo, a arrecadação de impostos. Por outro lado, o TAC também prevê apoio ao Projeto 50 Casais de Mutuns, do MPAL.

Para conferir o andamento das tratativas firmadas no TAC sobre a transferência da indústria para Pilar, promotores de Justiça e outros parceiros do projeto estiveram, nessa sexta-feira (17), na sede da empresa, no Tabuleiro. A transferência é necessária em decorrência do crescimento urbano que, de forma desordenada e sem planejamento, chegou aos arredores do empreendimento.

A transferência deve ser concluída no meio do ano de 2026 e, para isso, representantes da empresa informaram a aquisição de equipamentos da Europa, que garantem ainda mais segurança e eficiência aos procedimentos. Com a mudança, a Nacional Gás sairá de uma área de 16,5 mil metros quadrados para uma área de 93 mil metros quadrados. Ela está em Maceió há 49 anos, desde quando não havia residências próximas, e nunca registrou nenhum acidente.

“De início, a empresa cogitou se mudar totalmente de Alagoas, porém, numa solução autocompositiva e negociável, visando preservar o meio ambiente, a segurança da comunidade do entorno e a manutenção dos postos de trabalho, chegamos a uma alternativa viável, com a transferência para uma área em Pilar. Ao mesmo tempo, apoio ao Projeto de 50 Casais de Mutuns. Ou seja, chegamos a um ponto de equilíbrio socioambiental e econômico com justiça social”, assegurou o promotor de Justiça Alberto Fonseca, titular da 4ª PJC.

Na ocasião, ele estava acompanhado pela promotora de Justiça Lavínia Fragoso, titular da 5ª Promotoria de Justiça da Capital (Recursos Hídricos), e por diretores do Instituto para Preservação da Mata Atlântica (IPMA), parceiro na reintrodução dos Mutuns no estado. Eles foram recebidos por dirigentes da empresa e representantes do sindicato da categoria.

Visita aos Mutuns

Após a reunião na sede da empresa, houve uma visita à sede do IPMA, na Usina Utinga, em Rio Largo, onde há um viveiro com um casal de Mutum-de-alagoas. Representantes da Nacional Gás e do Sindicato dos Trabalhadores do setor foram conhecer a ave símbolo de Alagoas e toda a sua história, desde o desaparecimento das matas alagoanas até os esforços para trazê-la de volta, a partir de um criatório sob responsabilidade da Sociedade de Pesquisa da Fauna Silvestre (CRAX), situado na cidade de Contagem, em Minas Gerais, que tem como fundadores Roberto Azeredo e James Simpson.

A explicação ficou por conta de Fernando Pinto, engenheiro, ambientalista e presidente do IPMA, apaixonado pelo Mutum. Ao final da visita, os representantes da Nacional Gás e do Sindicato da categoria contaram suas impressões.

“Eu estou deslumbrado com esse cenário que encontramos aqui. Esse projeto é digno de apoio não somente da Nacional Gás, mas de qualquer empresa, pois ele dá sustentabilidade à natureza, à fauna, à Mata Atlântica. Então, é algo fantástico, estou deslumbrado com tudo o que vi aqui”, enfatizou Walter Freire dos Santos, presidente do Sindicato dos Trabalhadores no Comércio e Minérios de Derivados de Petróleo no Estado de Alagoas.

Representando o Grupo Edson Queiroz, Arley Barros Leal também contou suas impressões. “É uma impressão que foge às expectativas. Toda a história, toda a forma como o projeto surgiu e se desenvolveu é muito cativante. Tenho a sensação de uma força que move todo esse entusiasmo. É um projeto que agora o Grupo está antenado e acompanhando e temos o privilégio de poder estar participando”, afirmou.

Sobre o Projeto 50 Casais de Mutuns

Articulado pelo MPAL, o projeto pretende manter sob os cuidados especializados da CRAX, no mínimo, 50 casais de Mutuns-de-alagoas, que servirão como matrizes para reprodução. Os filhotes, quando estiverem na idade adequada, serão trazidos a Alagoas para reintrodução em unidades de conservação nas áreas de Mata Atlântica. A expectativa é que mais de 50 aves sejam reintroduzidas por ano em Alagoas, ajudando, assim, no processo de refaunação.

Ascom MPE/AL