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Ufal presta solidariedade à Mãe Mirian e repudia ameaças dirigidas à ialorixá

Em nota, a Universidade Federal de Alagoas repudia as recentes ameaças sofridas pela ialorixá Mirian Araújo Souza Melo, Mãe Mirian – Yá Binan, de 91 anos. Ao mesmo tempo, a instituição também presta solidariedade e apoio a ela, que é a guardiã de saberes ancestrais e liderança sagrada das religiões de matriz africana.
Veja abaixo, a íntegra da nota:
Nota de repúdio e solidariedade à Mãe Mirian – Iyá Binan
A Universidade Federal de Alagoas, por meio desta nota, ergue sua voz em irrestrita solidariedade à Mãe Mírian – Iyá Binan, mulher negra, anciã de 91 anos, guardiã de saberes ancestrais e liderança sagrada das religiões de matriz africana em nosso estado. Diante das recentes ameaças de morte que lhe têm sido dirigidas, expressamos, com veemência, nosso mais profundo repúdio.
Não é possível silenciar nem naturalizar a persistência do ódio religioso, do racismo estrutural e da barbárie contra corpos e espiritualidades negras neste país. O que se atenta contra Mãe Mírian é mais que violência individual: é a repetição de um projeto genocida e epistemicida que insiste em tentar eliminar o que resiste, floresce e ilumina há séculos.
A história do Estado de Alagoas, em que a quebra de Xangô ceifou vidas, apagou terreiros e marcou gerações com dor, lamentavelmente ainda tenta se repetir nos gritos da intolerância religiosa.
Há exatos sete dias, esta universidade, com honra e coragem, concedeu a Mãe Mírian o merecido título de Doutora Honoris Causa, num gesto de reparação histórica, de reconhecimento de sua trajetória e do valor de sua sabedoria, tantas vezes invisibilizada pelos cânones coloniais do saber.
O terreiro é também escola de muitas pessoas que ali acorrem e Mãe Mírian é, com todo mérito, além de mãe biológica, mão de santo, mulher nordestina aguerrida, Doutora de um Brasil profundo que se nega a morrer.
A Ufal não será cúmplice da intolerância. Estaremos ao lado de Mãe Mírian, como estivemos ao reconhecê-la Doutora Honoris Causa, e como estaremos enquanto houver racismo, preconceito ou opressão a ser combatido, caminhando sempre na luta por um Brasil onde caibam todas as fés, todos os saberes e, acima de tudo, todas as vidas.
Ascom Ufal