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Especialistas alertam para a urgência de transição na forma de produzir

O estande do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), no Pavilhão Internacional da Expointer, foi palco para debate sobre as alterações climáticas e a necessidade de uma adequação nos sistemas de produção. Foram três palestras com a apresentação de dados sobre os impactos na infraestrutura rural, na produção agrícola e suas repercussões econômicas. O painel contou com a participação do superintendente do Mapa no Rio Grande do Sul, José Cleber Souza, e do diretor-executivo de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa, Clenio Pillon.
“Precisamos tornar os cultivos e as criações adaptados ao novo contexto do clima. Este conjunto de estudos tem este sentido, de recolher dados e informações que oportunizem avaliar a trajetória e propor novas ações, que integrem as esferas públicas e privadas nos diferentes níveis”, disse o superintendente. Souza destacou a importância de somar forças para atuar de forma conjunta, identificar lacunas de conhecimento e implementar mudanças nas práticas agropecuárias, mitigando as causas e adaptando a produção agropecuária às novas condições.
O diretor Pillon ressaltou os aprendizados do evento extremo de 2024 no Estado. “Não existem soluções simples para problemas complexos. Precisamos de uma boa integração entre conhecimento, tecnologia, articulação e governança”, pontuou. O pesquisador ressaltou, ainda, o papel fundamental da pesquisa para a qualificação das políticas que já existem, sublinhando que o Brasil é referência em tecnologia de agricultura de conservação. “O que está faltando para os agricultores adotarem estas soluções?”, questionou.
Consultores apresentaram dados de estudos

O geógrafo Henrique Cunha, consultor do Mapa/RS, falou sobre os prejuízos nas estradas vicinais, pontes e pontilhões do Estado. Nas regiões imediatas de Cachoeira do Sul e São Borja, cerca de 80,9% a 85,5% da malha vicinal foi danificada. Nas regiões de Santa Maria, Erechim, Santa Cruz do Sul, Lajeado, Sobradinho, Encantado, mais de 76 pontes foram destruídas em cada região. Entre os impactos diretos, estão o isolamento de comunidades rurais e urbanas e o atraso na logística, que comprometeu o escoamento de safras e o transporte de insumos.
“Foi possível classificar cada região imediata considerando a intensificação dos danos pelas características de relevo e precipitação pluvial intensa. Nas planícies fluviais, foram apresentadas inundações, e no relevo mais acidentado erosões pontuais”, explica Cunha sobre a intensificação de danos nas estradas durante o evento climático de 2024.
A economista Bruna Campos, consultora do Mapa/RS, apresentou estudo sobre os danos relacionados a estoques, máquinas e instalações, além de perda de produtividade. Segundo ela, os impactos atingiram mais de 90% dos municípios gaúchos. “Os dados mostram que os prejuízos vão além da produção atual, comprometendo a capacidade produtiva futura e a solvência dos agentes econômicos”, informou.
Conforme Bruna, foi possível verificar que as regiões mais severamente atingidas concentram uma maior diversidade produtiva, incluindo arroz, frutas, hortaliças e culturas permanentes. “Isso amplia os efeitos das perdas sobre a segurança alimentar e a resiliência econômica regional”, avaliou. Outro agravante é que a frequência crescente de desastres gera impactos cumulativos sobre infraestrutura, produção e liquidez dos produtores.

“Quanto mais lenta for a transição para uma economia de baixo carbono, mais severos e frequentes serão os riscos físicos associados às mudanças climáticas, reforçando a necessidade de uma transição coordenada, planejada e integrada entre setores e territórios”, afirmou Bruna.
Recupera Rural RS
A terceira palestra técnica foi apresentada pela chefe adjunta de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Clima Temperado, Rosane Martinazzo. A pesquisadora falou sobre o Recupera Rural RS, programa da Embrapa com foco em desenvolver e disponibilizar soluções e estratégias para mitigar os efeitos das mudanças do clima. O projeto também tem como objetivo dar apoio na tomada de decisões e às políticas públicas.

Rosane detalhou as ações em andamento nas regiões imediatas afetadas pela enchente e os resultados da implementação de protocolo técnico voltado à adaptação climática e resiliência agroecológica. Planejamento da produção, curvas de nível e terraço são algumas das boas práticas que podem ser adotadas para diminuir os riscos. “Falta a gente usar as ferramentas que já temos disponíveis para ter sistemas mais resilientes e voltarmos a ter uma agropecuária forte”, disse a chefe adjunta da Embrapa.
Ascom Ministério da Agricultura