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Canetas Emagrecedoras Manipuladas: o que muda com as novas regras da Anvisa

01/09/2025
Canetas Emagrecedoras Manipuladas: o que muda com as novas regras da Anvisa
Fotos: Dr. Djairo Araújo

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) publicou novas diretrizes que restringem o uso de substâncias manipuladas em medicamentos injetáveis voltados ao emagrecimento — como as populares “canetas emagrecedoras” contendo semaglutida ou tirzepatida. A medida surge após diversos alertas sobre os riscos do uso dessas versões manipuladas, que incluem falta de controle de qualidade, prescrição inadequada e relatos de efeitos adversos graves.

“Muita gente acha que, por ser manipulado, é a mesma coisa que a medicação comprada na farmácia. Mas não é. Estamos falando de moléculas que exigem estabilidade, controle de temperatura e precisão de dosagem. E isso só é garantido em medicamentos aprovados e fabricados sob rigor farmacêutico.”, explica Djairo Araújo, médico com atuação nas áreas de Nutrologia e Medicina Esportiva.

Por que a mudança?


A nova regra foi publicada no Despacho nº 97, de 22 de agosto de 2025, e busca reforçar a segurança dos pacientes. A Anvisa identificou que algumas farmácias estavam manipulando e comercializando versões dessas substâncias sem autorização, e com doses muito acima das recomendadas em estudos clínicos.

Durante inspeções realizadas em 2023, a agência encontrou diversas irregularidades:


ü Prescrições com dosagens elevadas;

ü Substâncias sem aprovação sanitária;

ü Falta de testes mínimos de qualidade em farmácias de manipulação.

Segundo o especialista, muitos pacientes sequer sabiam o que estavam aplicando. “Já atendi casos em que o paciente comprou a caneta manipulada por redes sociais e chegou ao consultório com efeitos adversos preocupantes”, alerta.

O que foi proibido?

A regulamentação da Anvisa determina:


ü Semaglutida biológica (como a presente no Ozempic®, Wegovy® e Rybelsus®): não pode ser manipulada, já que depende de um processo de fabricação biotecnológico que assegura sua eficácia e segurança.

ü Semaglutida sintética: ainda não tem registro aprovado no Brasil, o que impede sua manipulação legal no país.

ü Tirzepatida sintética: pode ser manipulada somente com insumos de procedência comprovada e sob condições rigorosas de controle laboratorial.

A decisão não é contra a manipulação como prática, explica o especialista. “A manipulação tem seu valor em contextos específicos. Mas quando falamos de análogos de GLP-1, que exigem estabilidade molecular e refrigeração, o risco de erro é alto demais.”

Para o médico Djairo Araújo, o recado das sociedades é claro: “Não dá para flexibilizar com esses medicamentos. O protocolo correto exige rastreabilidade, conhecimento clínico e estrutura para avaliar o paciente de forma integral.”

Quais são os riscos?


As versões manipuladas de semaglutida ou tirzepatida, além de não serem aprovadas pela Anvisa, apresentam uma série de riscos potenciais:

ü Falta de estudos clínicos que atestem eficácia e segurança;

ü Doses instáveis e risco de intoxicação;

ü Contaminação cruzada durante a manipulação;

ü Falsificações em larga escala vendidas por redes sociais;

ü Efeitos adversos como náuseas intensas, vômitos persistentes, pancreatite e inflamações locais.

Djairo já identificou casos de pacientes que relataram efeitos incompatíveis com o perfil esperado da medicação original. “Em muitos casos, o que estava sendo usado nem era semaglutida de verdade”, afirma.

Ainda de acordo com o médico, o paciente precisa fugir de soluções fáceis. “Se ele quer segurança e resultado, precisa evitar promessas milagrosas. O caminho é tratamento sério, com orientação médica e mudança de estilo de vida.”

A orientação é clara: desconfie de soluções rápidas vendidas por motoboys, redes sociais ou prescrições padronizadas. As chamadas “canetas emagrecedoras” são medicamentos potentes, que precisam ser usados com responsabilidade.

A decisão da Anvisa representa um passo importante, mas a segurança só será completa com consciência coletiva: de quem prescreve e de quem consome.

Fonte: Assessoria