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Maceió realiza workshop internacional sobre comércio de peles de jumentos para China e outros países asiáticos

Uma força-tarefa global – formada por pesquisadores, órgãos públicos e organizações de diversos países, incluindo o Brasil – está intensificando os esforços para interromper o abate e a exportação de jumentos. De 26 a 28 de junho, será realizada a terceira edição do evento internacional Jumentos do Brasil: Futuro Sustentável, no Hotel Ritz Lagoa da Anta, em Maceió, promovido pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL), com iniciativa da organização não-governamental de bem-estar animal The Donkey Sanctuary, sediada no Reino Unido. O evento integra uma campanha internacional contra o comércio de peles de jumentos, impulsionado pela demanda crescente por ejiao – produto da medicina tradicional chinesa feito a partir do colágeno extraído da carcaça desses animais.
Dados oficiais da FAO, IBGE e Agrostat indicam que o Brasil já teve uma das maiores populações de jumentos do mundo. Hoje, no entanto, a situação é alarmante: o número de animais caiu 94%, de 1,37 milhão em 1996 para cerca de 78 mil em 2025. Isso significa que restam hoje apenas 6 jumentos para cada 100 que existiam na década de 90.
Na ocasião, também será apresentada a campanha Parem o Abate da The Donkey Sanctuary, que convida a população a visitar o site www.fimdoabate.com.br e pedir aos parlamentares a aprovação de dois Projetos de Lei: um em tramitação no Congresso Nacional (PL nº 2.387/2022) e outro na Assembleia Legislativa da Bahia (PL nº 24.465/2022), ambos com o objetivo de proibir o abate e a exportação de jumentos no Brasil. Atualmente, a Bahia é o único estado com três abatedouros autorizados pelo Serviço de Inspeção Federal (SIF) a abater equídeos – estabelecimentos que recebem jumentos de diversos estados do Nordeste.
Sobre o Workshop – O evento reunirá cientistas, especialistas em bem-estar animal, profissionais do direito, professores de universidades federais brasileiras e representantes de ONGs nacionais e internacionais. Também marcará o lançamento oficial do relatório internacional Stolen Donkeys, Stolen Futures, com o objetivo de fortalecer a incidência por mudanças legislativas. O relatório documenta os impactos econômicos, sociais e ambientais do comércio de peles de jumentos no Sul Global, com ênfase especial em seus efeitos sobre mulheres e crianças em comunidades rurais.
“Essa não é apenas uma questão de bem-estar animal. Estamos falando de um patrimônio genético único, adaptado ao semiárido do Nordeste brasileiro. Acreditamos que existem três caminhos sustentáveis para os jumentos no Brasil: viverem livres na natureza, continuarem a apoiar a agricultura familiar e serem reconhecidos e valorizados como animais de companhia”, afirma Patricia Tatemoto, coordenadora da campanha da The Donkey Sanctuary no Brasil.
Estudos recentes confirmam que o jumento nordestino possui um perfil genético distinto, o que torna sua preservação ainda mais urgente. Para Roberto Arruda, engenheiro agrônomo e doutor em Economia Aplicada pela Universidade de São Paulo (USP), é fundamental concentrar esforços na pesquisa e no desenvolvimento de soluções que substituam o uso de peles de jumentos. “Pesquisas já apontam alternativas tecnológicas promissoras, como a fermentação de precisão, capaz de produzir colágeno em laboratório sem a necessidade de exploração animal. Investir nessas inovações é essencial para proteger a espécie e promover práticas mais sustentáveis, inclusive sob a perspectiva socioeconômica”, destaca.
Essa iniciativa brasileira integra um movimento internacional mais amplo. Em fevereiro do ano passado, a União Africana aprovou uma moratória sobre o abate de jumentos para exportação – medida já adotada em países como Quênia, Nigéria e Tanzânia. Se o Brasil avançar com legislação semelhante, o país poderá se alinhar à estratégia do Sul Global de promoção da sustentabilidade, bem-estar animal e proteção de meios de subsistência e de patrimônio genético único.
“Não podemos continuar sendo o elo frágil de uma cadeia internacional que lucra com a morte de um animal essencial para a vida de comunidades vulneráveis. É urgente que o Brasil alinhe sua legislação às boas práticas já adotadas por outros países do Sul Global”, aponta Pierre Barnabé Escodro, professor e pesquisador de Medicina Veterinária, Inovação e Empreendedorismo da UFAL.
Além do website, a campanha Parem o Abate inclui encontros com parlamentares, kits de postagens sobre o tema para as redes sociais e ações de mobilização com especialistas e influenciadores.
Para mais informações sobre a campanha, acesse: Link.
Fonte: Agência Pauta Social