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Obesidade infantil: uma epidemia negligenciada que exige ação imediata

O sobrepeso infantil é a causa mais frequente de procura ao endocrinologista na faixa pediátrica. A doença afeta 13,2% das crianças entre 5 e 9 anos acompanhadas no Sistema Único de Saúde (SUS), e pode trazer consequências ao longo da vida. Pensando nisso, hospitais administrados pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) contam com ambulatórios especializados em obesidade infantil ou serviços voltados para essa condição.
A obesidade consiste no acúmulo excessivo de gordura corporal, acarretando danos à saúde da pessoa. Segundo a enfermeira Michelini Fátima da Silva, do Hospital Universitário Professor Polydoro Ernani de São Thiago, da Universidade Federal de Santa Catarina (HU-UFSC), o sobre peso pode surgir em qualquer período da vida, mas aparece principalmente entre os 5 e 6 anos de idade e na adolescência. “A sua origem é variada com combinação entre fatores genéticos, metabólicos, nutricionais, psicossociais e ambientais”, reforça.
No Brasil, a classificação da obesidade em crianças e adolescentes é realizada segundo as curvas de crescimento da Organização Mundial da Saúde (OMS), levando em consideração o histórico alimentar e exame físico. A chefe da pediatria e endocrinopediatra do Hospital Universitário Gaffrée e Guinle, da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (HUGG-UNIRIO), Mariana Borges, enfatiza que o reflexo da obesidade infantil aparece na infância por meio de desvio da coluna, lesões em articulações, distúrbios respiratórios, roncos noturnos e puberdade precoce.
Formas de evitar e tratar a obesidade infantil
De acordo com Natalia Gatttass, médica endocrinologista do Hospital Universitário da Universidade Federal da Grande Dourados (HU-UFGD), a prevenção da obesidade se inicia ainda na vida intrauterina. A mãe deve ser encorajada a engravidar com um peso adequado e a manter a alimentação equilibrada durante toda a gestação, evitando o ganho excessivo e elevações da glicemia durante a gravidez.
As medidas de prevenção mais recomendadas são o estímulo ao consumo de alimentos saudáveis, a prática de atividades físicas, além do envolvimento da família para a consciência alimentar. A nutricionista Mônica Assunção, chefe do Setor de Gestão do Ensino do Hospital Universitário Professor Alberto Antunes (HUPAA-Ufal), reforça que na fase escolar a preocupação com a alimentação ganha novo contorno. “Alguns pais aderem à praticidade dos lanches prontos que quase sempre possuem alta densidade energética e baixo valor em nutrientes essenciais, que são grandes vilões”, alerta.
Juntamente com a adoção dos hábitos saudáveis e mudanças na alimentação, crianças maiores de 12 anos podem utilizar medicamentos aprovados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para tratamento da obesidade.
Impactos da obesidade infantil na vida adulta
Adriane Cardoso, endocrinologista pediátrica do Complexo do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná (CHC-UFPR), elenca que, além dos riscos já conhecidos, como de diabetes tipo 2, hipertensão, aumento de colesterol e triglicerídeos, doenças cardiovasculares e ortopédicas, as meninas, em especial, podem ter uma aceleração da puberdade e até a 1ª menstruação mais cedo do que a média.
“Além disso, vale destacar os problemas emocionais causados nessa fase da vida que estão relacionados ao estigma da doença, como o bullying, que podem levar ao abandono escolar, ao isolamento social e a problemas emocionais na idade adulta, mesmo naqueles indivíduos que conseguem perder peso mais tarde”, reforça a endocrinologista pediátrica.
Atendimentos nos hospitais da rede
O Complexo do Hospital de Clínicas da UFPR (CHC-UFPR) possui um ambulatório de obesidade infanto-juvenil desde 1998, criado pela professora Rosana Bento Radominski. O local atende crianças e adolescentes com obesidade grave, alguns já com doenças associadas à obesidade, alguns com síndromes, Transtorno do Espectro Autista (TEA) e suspeita de obesidade monogênica. Atualmente, a equipe é composta por nutricionistas, médico psiquiatra e endocrinologista pediátrica que atende 144 pacientes.
Em algumas unidades hospitalares não existe um ambulatório específico de obesidade infantil, mas a prevenção da obesidade faz parte de toda consulta pediátrica por meio do acompanhamento do peso, estímulo ao aleitamento materno e à alimentação adequada. Há casos que deve ser feito o acompanhamento multidisciplinar. No HUGG-Unirio, esses casos são acompanhados no Ambulatório de Endocrinologia Pediátrica, com atendimento associado ao ambulatório acadêmico de Nutrição e encaminhamento para psicologia e psiquiatria.
O Ambulatório de Pediatria do HU-UFSC recebe crianças e adolescentes para consultas agendadas, atendendo diversas especialidades, entre elas: pediatria geral com foco em puericultura, cirurgia ambulatorial, neurologia, nutrologia, neonatologia, cardiologia, endocrinologia, pneumologia, nutrição, genética e gastrenterologia. No momento, estão sendo acompanhadas cerca de 27 crianças/adolescentes com sobrepeso e obesidade.
Sobre a Ebserh
Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 41 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.
Ascom Ebserh