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Estilista presta consultoria voluntária ao Inbordal no Sebrae Alagoas

16/05/2017
Estilista presta consultoria voluntária ao Inbordal no Sebrae Alagoas

Fernanda Queiroz é uma estilista com 30 anos de experiência no mundo da moda que mora e trabalha em São Paulo. De férias em Maceió, visitando uma amiga no mês de fevereiro, ela ficou sabendo do trabalho das artesãs do Instituto Bordado Filé (Inbordal), que foram alvo de um trabalho de base do Sebrae em Alagoas durante quase 8 anos e que tinham até recebido um selo de Indicação Geográfica (IG) para o filé. Fernanda ficou apaixonada por todo esse trabalho e, desse encantamento, se ofereceu para voltar a Alagoas e dar uma consultoria totalmente gratuita às filezeiras.

Durante três semanas, de 26 de abril até esta sexta-feira (12), ela marcou presença na sede do Inbordal, em plena Ilha de Santa Rita, para entender melhor o trabalho das artesãs e ver como podia ajudá-las a atingir um público mais seleto. Com conhecimento e acesso a bazares frequentados pela classe A paulistana, Fernanda pôs sua experiência à disposição, em trocas diárias, das 9h30 à 16h. Enquanto ensinava as filezeiras a preparar fichas técnicas dos produtos, ela aprendia a fazer os pontos do bordado filé para entender como poderia usá-los da melhor forma nos produtos.

Pode soar estranho que alguém, do nada, saia de sua rotina para ajudar pessoas em outro estado, mas Fernanda Queiroz encarou tudo com bastante tranquilidade. “Eu expliquei quando vim pela primeira vez que teria um intervalo de dois ou três meses entre um trabalho e outro, então me ofereci para ajudar. O grupo conversou, elas  aceitaram e eu vim. Eu ia mesmo usar esse espaço para fazer uns cursos de Photoshop, Ilustrator e After Effectss, por exemplo, para renovar esse conhecimento relativo ao meu trabalho, porque no mundo da moda tudo é aprendizado. E desde então tem sido assim: elas me ensinam e eu ensino a elas, é uma troca”, contou.

Essa troca gerou, a princípio, uma leve curiosidade entre as próprias bordadeiras, o que rapidamente foi superada pelo empenho que Fernanda lhes mostrou. “Ela aprendeu a fazer o bordado até mais rápido que algumas pessoas daqui. Teve até quem achasse que ela queria aprender para levar e fazer lá fora, porque é estranho alguém oferecer seu tempo sem pedir nada em troca. Não diria que foi uma resistência, mas uma curiosidade que foi superada. O que ela está ensinando aqui nessa consultoria, se a gente fosse pagar, seria muito caro, e estamos percebendo que é uma coisa que levaremos para a vida. Quem sabe uma nova coleção ou uma outra cartela de cor”, comentou Ana Cristina Nogueira, artesã do Inbordal, moradora de Marechal Deodoro.

O encantamento mútuo também atingiu o Sebrae em Alagoas, que está dando suporte logístico para a realização da ‘consultoria voluntária’ de Fernanda Queiroz, mais uma fã conquistada pelo legítimo bordado filé da região das lagoas – uma lista que já inclui uma embaixadora da Áustria no Brasil, os integrantes das Linhas Círculo e uma empresa de etiquetas inteligentes, todos parceiros conquistados pelo Inbordal após apresentação de sua arte.

“O trabalho que o Instituto faz é diferenciado dos demais, ele encanta pela beleza, pela abordagem social com as artesãs, pela conquista do selo de Indicação Geográfica. O Sul e o Sudeste não estão acostumado a cores tão abertas, então a Fernanda veio falar sobre isso, da possibilidade de outras peças para conquistar também esse público com o bordado filé”, ponderou Marina Gatto, analista da Unidade de Comércio e Serviços (UCS) do Sebrae em Alagoas.

Diferenciação para um público diferente

A proposta de mudança de cor, tão vibrantes e tão características do bordado filé, já é uma forma de apresentar-se a esse público mais específico, que prefere ver os detalhes da peça e integrá-los em um ambiente mais harmônico. Por isso, a peça escolhida para o trabalho de Fernanda e filezeiras foi o jogo americano – seis modelos diferentes foram pensados, bordados, testados para resistência e registrados em fichas técnicas para futura reprodução com possibilidade mínima de falhas.

“Se você for no Pontal ou na Ilha de Santa Rita, como fui em fevereiro, vai ver que as peças são todas muito parecidas. No começo da minha carreira, eu me formei em Vestuário pelo Senai, em chão de fábrica mesmo, de avental, aprendendo a cortar, pesar linhas e material para montar o preço, montar ficha técnica, a parte ‘chatinha’ do processo, mas que é muito importante. Foi como expliquei para elas: é a fase do Desenvolvimento, para os testes, dúvidas e erros, para poderem passar tranquilas para a fase da produção”, explicou a estilista.

Fernanda também trabalhou com lojas de enxovais, daí também a experiência em entender o que o público dessa área deseja. “As filezeiras dispendem muito trabalho na confecção do ponto no meio do jogo americano, mas é exatamente essa parte que vai ficar escondida pelo prato”, esclareceu, antes de destacar outra contribuição. “Pensamos em peças mais neutras, para compor as mesas, em cores mais leves, mas também algumas peças que com características da região, como este modelo que evoca o movimento do mar”, e apresentou um protótipo de jogo americano, ainda no tear, nas cores azul, azul claro e verde claro.

Esta é apenas uma amostra do conhecimento técnico e do perfil de segmento valiosíssimos que Fernanda tem a oferecer. A estilista já pensa nos próximos passos. “Elas estão crescendo, caminhando para frente. Quem sabe investir em um mercado externo? O mundo é tão grande e hoje está tão fácil”, incentivou Fernanda Queiroz.

Para isso, ela estuda com as artesãs uma forma de acompanhar a evolução do trabalho através do Skype, antes de uma nova viagem. “Mas eu preciso sentar com elas e ver se vão querer continuar”, considerou a estilista, ao que Ana Cristina nem deixou espaço para dúvida. “Ah, com certeza a gente vai continuar!”, assegurou a artesã.

Fonte: Agência Sebrae Alagoas