Maria Rita é uma sertaneja como milhares em Alagoas, tira da agricultura sua sobrevivência. Ela mora no município de Murici, no assentamento Dom Hélder Câmara, onde ocupa um dos lotes disponíveis para as famílias da região. A produtora rural representa a fibra e a força da mulher no campo. Com apoio do Arranjo Produtivo Local (APL) Fruticultura no Vale do Mundaú, ela transformou definitivamente sua vida. A história da produtora rural com o APL começou de uma forma bastante peculiar. Murici não era uma cidade contemplada pelas ações do grupo. Mas como Rita enfrentava muitas dificuldades no cultivo da laranja, recebeu o conselho de uma amiga para procurar o suporte do arranjo para resolver seu problema com a fruta. No começo, ela chegou a pensar que o APL era um homem, toda concepção mudou no primeiro encontro. “Eu imaginava que era um homem, mas quando cheguei à reunião vi um monte de gente junta, só entendi de verdade depois das palestras. Eu achei muito estranho, vi um tonel que fedia muito, era para produzir biofertilizantes e melhorar a terra. Logo no começo também aprendi que não podia deixar a roça bem limpinha, precisava manter a cobertura do solo para proteger”, explica Maria Rita. “Por meio do apoio do APL começamos a ganhar mais dinheiro, consegui comprar a carrocinha que eu não tinha. Consegui pagar uma pessoa para me ajudar na roça, que fica dois dias. Eu não tinha como dar conta de tudo. A minha casa eu também construí com o dinheiro daqui, mas pedi um empréstimo e estou terminando de pagar,” completa. Apesar de não integrar o grupo de fato, a produtora rural lutou muito para entrar no APL, inclusive frequentava todas as reuniões que tinha conhecimento. Ela e uma vizinha descobriram que se o prefeito de Murici assinasse um ofício, seria possível incluir a cidade no território arranjo, para que os produtores recebessem atendimento. Momentos difíceis Rita é presidente da Associação dos Moradores do Assentamento Dom Hélder Câmara. Mas quem a vê com toda força e liderança, não imagina os momentos que ela enfrentou na vida. Após a morte do marido, precisou cuidar da filha e da cunhada, que tinha quase 100 anos e era deficiente visual. Além disso, teve de gerenciar toda propriedade sozinha. Neste tempo, também perdeu a avó, familiar que a criou desde pequena. “Tudo foi super difícil pra mim, tinha que dar conta do lote. Logo no início, você não recebe pensão. Fiquei muito tempo sem ganhar, então tive que procurar outras atividades para conseguir sustentar a casa. Vendia macaxeira, fazia tapioca, era um sofrimento, mas eu tinha minha cunhada, que estava sempre ali, me dando muita força”, relatou. Antes de morrer, a cunhada ainda fez uma promessa, disse que arranjaria um casamento para Rita. Pouco tempo depois, a vontade da senhora se concretizou e a produtora ficou noiva. Só que uma doença veio para atrapalhar os planos, ela foi diagnosticada com Leucemia. Mesmo assim, o obstáculo não impediu a realização da união e o casal permanece junto até hoje, se completando na vida e na profissão. Superação Após o diagnóstico da doença, Rita iniciou o tratamento. Ela pensou muitas vezes em desistir, só que os companheiros davam a força que ela precisava para continuar. Ela participa da feira de orgânicos que ocorre na Praça Centenário, em Maceió, todo domingo. Quando faltou uma semana, logo foi recebida com cumprimentos e abraços na semana seguinte. “Na feira eu me sinto em casa, eu tenho uma barraca, jaleco e minhas cestinhas. Vendo minha tapioca e não faltam clientes. Meu marido também me acompanha, ele tem uma barraca. É um momento muito importante pra gente. Lá não fica nada, eu vendo tudo. Às vezes as pessoas dizem, eu quero, eu quero, mas não tem mais”, comemora.