A Natucapri é atendida pelo Arranjo Produtivo Local (APL) Ovinocaprinocultura no Sertão. A ideia do novo negócio surgiu nesse cenário como uma forma de trazer geração de renda para seis produtoras rurais. Elas logo aprenderam a trabalhar com a matéria-prima e iniciaram a fabricação dos sabonetes. Na primeira oportunidade de comercializar, participaram de uma feira em Maceió. Os produtos acabaram rapidamente, forçando-as a estender o local de produção para casa de uma associada na capital alagoana. De acordo com uma das fundadoras do grupo e secretária da associação, Sônia Menezes, o primeiro evento rendeu um lucro de R$ 14 para cada uma e se tornou decisivo. “A gente pegou o lucro que recebeu lá e dividiu. Algumas pessoas pegaram o dinheiro e não quiseram mais participar. Mas nós mantivemos a atividade. Foi assim que nasceu a associação. A partir desse momento, começamos a receber diversas capacitações”, contou. Início difícil O começo da associação não foi fácil para nenhuma das mulheres. Além da reprovação da cidade, que achava uma perda de tempo a reunião delas para a produção dos cosméticos, os maridos também não acreditavam que aquilo iria funcionar. Mesmo assim, com todos os problemas, nada se tornou um grande obstáculo para as empreendedoras. Aos poucos, foram ganhando espaço e impondo respeito por onde passaram. “Meu marido até hoje não aceitou, ele ainda fica sem querer aceitar e eu sempre venho. Mas foi difícil até para os moradores de Maravilha, que não acreditavam. Eles diziam que a gente não tinha o que fazer, por isso estava na Natucapri. Acusavam a gente de deixar de fazer coisas em casa para ir na associação fazer nada. Apesar de tudo, até hoje estamos aqui e não vamos desistir jamais”, relata Sônia Menezes. Outras atividades Apesar do lucro já ter ultrapassado os R$ 14 iniciais, a associação não é capaz de fornecer renda suficiente para a sobrevivência das mulheres. Muitas delas ainda desempenham outras atividades como uma forma de trazer maior segurança no dia a dia, já que a produção dos cosméticos depende dos pedidos e nem sempre são feitos com tanta frequência. Algumas trabalham em propriedades rurais, como empregadas domésticas e costureiras. “Eu sempre trabalhei na roça e a gente não pode abandonar isso. É até engraçado, às vezes chegava algum consultor e ia buscar a gente lá mesmo, porque não tinha como avisar. Agora eu moro na cidade, mas ainda vou pra roça. Tenho uma história como agricultora, já fiquei em São Paulo fazendo isso, colhendo laranjas lá na região. A agricultura ainda é o que move o Sertão”, disse a presidente da Natucapri, Maria Jose dos Santos. Conquistas Hoje a percepção sobre a Natucapri é totalmente diferente do que era. Os moradores respeitam a associação e sentem orgulho de ter um grupo assim na cidade. O crescimento das vendas e da publicidade sobre o grupo, que tem se tornado cada vez mais conhecido, contribuíram para essa mudança de opinião. A imprensa e os próprios consumidores acabam divulgando os produtos em diversos locais diferentes. “Sempre tem trabalho em colégios e faculdades, até faculdades de fora vêm fazer visita. Aqui já deu até briga nos colégios, porque cada um quer falar da gente. Como aconteceu semana passada, um veio, depois o outro veio e de repente descobriram que os dois estavam querendo falar da Natucapri. Pra gente é muito bom, cada dia é um incentivo a mais pra gente, as pessoas gostarem do trabalho e entenderem como funciona”, justifica a diretora de marketing, Ana Patrícia Alves. As conquistas não pararam apenas no reconhecimento da cidade. As empreendedoras evoluíram em vários sentidos diferentes, desde a gestão da associação até o comportamento em férias e eventos. Muitas delas nunca tinham viajado nem saído de Maravilha. Depois da associação, a mudança de vida foi completa. “Eu costumo dizer que sou agricultora, doméstica e empresária. Aprendi muita coisa, falar bem com as pessoas, viajar. Hoje vou para qualquer lugar do Brasil, vou pra feira, vendo sabonete, faço sabonete. Às vezes dá um nervosismo, vem reportagem, a gente fala. Só estou esperando ser empresária de verdade também no bolso. Estou muito feliz”, comemora a diretora financeira da Natucapri, Maria Jose Alves Filha. Perspectivas Um dos grandes sonhos da associação é conseguir construir uma fábrica para a produção dos cosméticos. Atualmente tudo é feito de forma artesanal, em uma casa alugada pela Prefeitura de Maravilha, que também é responsável pelo pagamento das contas de energia e água do local. As empreendedoras também estão trabalhando para obter o selo da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que deve ser emitido ainda este ano. Atualmente a produção é bem variada. Com um litro do leite de cabra, é possível produzir até 600 sabonetes. O processo dura cerca de duas horas, todavia o clima é responsável pelo tempo, quanto mais quente, mais devagar. Hoje são usadas mais de 10 essências, capazes de combater oleosidade, espinhas e hidratar a pele. Entre os produtos estão o sabonete, hidrante, sabonete líquido, além de kits e buchas vegetais. Apesar das grandes conquistas, as mulheres pretendem crescer muito mais, aumentando o profissionalismo da associação, ampliando o lucro e se dedicando apenas a isso. “Um dia, se Deus quiser, nós poderemos nos dedicar apenas a essa atividade. A Natucapri abre muitas portas para a gente. Nós queremos ir mais longe e quanto mais aprendizagem, melhor, afirma a presidente da associação”, Maria Jose dos Santos.