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Médico fala sobre os desafios de trabalhar em hospital de emergência

26/10/2015
Eles não têm dia e nem hora para trabalhar. Andam vestidos de branco e, assim como os anjos, têm apenas um compromisso: salvar vidas. Eles são os médicos, que diariamente dão sua contribuição na Unidade de Emergência Daniel Houly (UEDH) no intuito de devolver a vida ou amenizar o sofrimento dos pacientes que procuram atendimento na maior unidade de trauma do interior de Alagoas. Em homenagem ao Dia do Médico, comemorado neste mês, conversamos com o cirurgião geral Jean Rafael dos Santos Rodrigues, 38 anos, e que há doze mergulhou de cabeça na profissão considerada por ele como uma das mais gratificantes do mercado. Casado e pai de três filhos, Jean Rafael trabalha há dez anos na Unidade de Emergência do Agreste. Sua maior realização enquanto médico é poder cuidar das pessoas e recuperá-las dentro das possibilidades da Medicina. A paixão pela profissão começou na infância. Ainda menino e morando na Rua Boa Vista, uma das mais antigas e tradicionais do Centro de Arapiraca, Jean Rafael já gostava de cuidar das pessoas. Aos oito anos de idade, viveu sua primeira grande experiência médica. Sua mãe sofreu um acidente e cortou o pé. O pequeno Jean ficou à frente da situação, tranquilizando a mãe, limpando o ferimento e o envolvendo com um pano. Tempos depois, sua mãe o levou para uma consulta no pediatra Milton Ênio, em Maceió. A empatia com o profissional foi grande e cada detalhe do atendimento foi observado e absorvido na memória do garoto. “Naquele momento, decidi que queria ser médico”, disse. Aos 17 anos, ingressou na faculdade de Direito, mas um ano depois decidiu largar o curso e estudar para o vestibular de Medicina. Aprovado na Universidade Federal de Alagoas (UFAL), Jean Rafael fez Residência no Hospital Universitário. Desafios Segundo o médico, uma das coisas que mais lhe impulsiona profissionalmente é poder salvar a vida de alguém que chega à Unidade de Emergência em estado crítico. Em seus doze anos de profissão, ele citou uma experiência vivida, onde teve que operar às pressas um paciente vítima de arma de fogo e com uma séria lesão. “Ele chegou em estado crítico e perdendo muito sangue. Eu e um colega vascular realizamos o procedimento cirúrgico e, dias depois, o paciente estava recuperado na enfermaria. Ao me ver, ele pegou na minha mão, agradeceu por ter lhe dado uma segunda chance para viver e disse que, a partir daquele momento, sua vida teria um sentido diferente. Declarações como essa não têm valor que pague”, disse o cirurgião. Jean Rafael afirma que o profissional da medicina tem uma ligação forte com Deus. “O ato de livrar uma pessoa da morte depende não somente de conhecimento científico, mas também da correlação entre a ciência e espiritualidade”. O médico disse, ainda, que, em uma Unidade de Emergência de alta complexidade, lidar com a morte é mais que um desafio. “Nesses momentos temos que ser fortes e enfrentar a situação com maturidade. Com o tempo, vamos percebendo que em determinados casos a Medicina não tem como reverter a morte, que é um episódio natural e inevitável no ciclo de um ser vivo”, frisou. A profissão A relação médico-paciente é uma interação que envolve responsabilidade e, acima de tudo, confiança. Essa relação caracteriza-se pelos compromissos e deveres de ambos os atores, permeados pela sinceridade e pelo amor. Ao ser questionado sobre os desafios enfrentados na profissão, o médico afirmou que a Medicina brasileira vem passando por transformações importantes do ponto de vista de formação e relações de trabalho. Segundo ele, o momento é de repensar e fazer com que a categoria busque, junto às entidades que a representa, mais qualidade na profissão e melhores condições de trabalhos. O médico disse, ainda, que é preciso que os governantes revejam a importância da prevenção na Atenção Primária. “Nos últimos trinta anos, a Medicina avançou muito do ponto de vista tecnológico, porém não evoluiu no setor primário, que deveria ter um papel mais preventivo”, alertou. A Unidade de Emergência, atualmente, conta com um quadro de aproximadamente 100 profissionais médicos, que atuam nas seguintes áreas: cirurgia geral, ortopedia, clínica médica, pediatria, otorrino, cirurgia vascular, urologia, medicina intensiva, infectologia, neurocirurgia, nefrologia, cardiologia e anestesia.