“Eu odeio Química, Química, Química”! Os versos de Renato Russo inspiraram e embalaram muitos jovens do anos 80, mas, quase trinta anos depois, a ciência que estuda a matéria e suas transformações ainda é vista com certa estranheza por uma parcela da juventude. Nadja Alves, uma professora de Química da rede estadual no agreste alagoano, fez da sua missão provar que a disciplina não é um “bicho de sete cabeças”, mostrando que a mesma faz parte do nosso dia a dia. Para isso, desenvolve pesquisas de iniciação científica com estudante das escolas estaduais Izaura Antônia de Lisboa, em Arapiraca, e Nossa Senhora da Conceição, em Lagoa da Canoa, há quase dez anos. Graduada em Ciências Biológicas e Química pela Universidade Estadual de Alagoas (Uneal), Nadja começa sua trajetória no magistério nos anos oitenta, na Escola Estadual Manoel André, em Arapiraca. Em 2000, foi lotada nos municípios de Lagoa da Canoa e São Sebastião e, quatro anos depois, seria transferida de São Sebastião para Arapiraca, para a Escola Izaura Antônia de Lisboa onde permanece até hoje. Para despertar o interesse dos jovens pela disciplina de uma maneira mais prática e sensorial, Nadja começou a promover pesquisas em 2007 com alunos de Arapiraca e, 2008, com os estudantes de Lagoa da Canoa. “Procuramos sempre trabalhar temáticas que estão presentes na realidade destes jovens e que trazem soluções para demandas que estão em seu dia a dia, dando formatação científica a tradições repassadas pela família”, conta Nadja. “Muitas de nossas pesquisas, por exemplo, trabalham questões ligadas à agricultura ou problemas de saúde”, complementa. Os resultados não demoraram a aparecer e, em 2008, pesquisa sobre produção de óleo de coco caseiro representou Alagoas na Feira de Ciências e Engenharia (Fenaceb) em Brasília. Esta seria a primeira de muitas premiações. Nacional e internacional – Nestes últimos sete anos, Nadja e seus alunos representaram o estado em diversas feiras e exposições científicas em todo o Brasil, sendo premiados em algumas delas, a exemplo da Feira Brasileira de Ciências e Engenharia da USP (Febrace); Milset Brasil, em Fortaleza; Mostra de Ciências e Tecnologia da Escola Açaí, no Pará e a Exposição de Ciência e Tecnologia do Instituto Federal Fluminense (Expocit), em Macaé, Rio de Janeiro. A premiação mais recente foi na Feira Nordestina de Ciência e Tecnologia (Fenecit) realizada em setembro na cidade de Recife, Pernambuco. A qualidade dos trabalhos fez com que os mesmos ganhassem credenciamento para eventos internacionais e, entre 2012 e 2014, a educadora e seus alunos participaram de duas das principais feiras científicas do mundo: a London International Youth Science Forum (LIYSF), no Reino Unido, onde esteve duas vezes e a Olimpíada Genius, em Nova York, realizada em junho de 2014. Aprovação – Além das conquistas alcançadas nestes últimos anos, Nadja se orgulha do crescimento e desenvolvimento pessoal de seus alunos. Os jovens se tornaram mais focados e a melhoria foi sentida não apenas na disciplina de Química. “Como faziam pesquisa, eles precisavam ler e escrever constantemente e tiveram uma melhoria evidente em Língua Portuguesa, principalmente no tocante à interpretação de textos”, relata Nadja. Quase todos foram aprovados de imediato no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). “Eles me disseram que, graças às pesquisas, chegaram à universidade em situação vantajosa, pois já tinham conhecimento de metodologia científica e de como elaborar artigos científicos”, explica. Alguns de seus alunos seguiram os seus passos em licenciaturas de Química, Biologia, Matemática ou Farmácia. Foi o caso de Karine Queiroz: aluna de Nadja em 2008 na Escola Estadual Izaura Antônia de Lisboa, a jovem optou por uma carreira na área de Biologia. “Ela é uma grande influência, pois graças às pesquisas das quais participei, comecei a gostar e me interessar por esta área. Assim como ela, pretendo seguir uma carreira como pesquisadora”, afirma a garota.