As marcas deixadas pelo período do Regime Militar no inconsciente coletivo do povo brasileiro são a temática central do espetáculo Milagre Brasileiro, que o Coletivo de Teatro Alfenim, da Paraíba, apresenta nesta sexta-feira (18), na Sala Preta do Espaço Cultural, na Praça Sinimbu, a partir das 20h. O Milagre Brasileiro tem como personagem principal o desaparecido político, personagem que assombra o trágico dia a dia de familiares e amigos que perseveram para obter do Estado Brasileiro uma resposta satisfatória sobre seu paradeiro. Personagem emblemática por sua condição extrema, o “desaparecido político” não pode ser incluído na estatística macabra dos mortos em combate, tampouco na lista não menos macabra das vítimas que sobreviveram à barbárie praticada nos porões do regime militar. A estranha condição de “existência imaterial” do sujeito, que é subtraído da História, reflete na dramaturgia do espetáculo, que opta por abrir mão da fábula e de sua tradicional função de conduzir o espectador em meio aos acontecimentos daquele período. Dessa forma, o espetáculo põe em cena a figura mítica de Antígona para dialogar com os mortos. Sua referência é o “teatro desagradável”, de Nelson Rodrigues, em seu Álbum de Família. Segundo o autor e diretor do Alfenim, Márcio Marciano, “Queríamos tratar da dor, não somente a dor individual do torturado, mas a dor de ser brasileiro e ter, em sua memória coletiva, esses acontecimentos. Então, assumimos muitas vezes o ponto de vista de quem aderiu ao Golpe Militar, retratando isso como uma ‘perversão social’ nos mesmos moldes das perversões das famílias representadas nas obras de Nelson Rodrigues”, diz o autor e diretor de Milagre Brasileiro, Márcio Marciano. O espetáculo é gratuito. Os ingressos começam a ser distribuídos duas horas antes da apresentação. Espetáculos A etapa de apresentações do Festival do Teatro Brasileiro (FTB) foi aberta na sexta-feira (11) pelo ator global Luiz Carlos Vasconcelos, que trouxe para Maceió seu espetáculo solo Silêncio Total, do Piollin Grupo de Teatro, lotando o Teatro Deodoro. Em seguida, no dia 12, o grupo teatral Quem Tem Boca é pra Gritar mudou a rotina dos moradores do conjunto residencial Vila dos Pescadores, no bairro do Sobral, com o espetáculo de ruaCancão, Malazarte e Trupizupe. Também no dia 12, o ator de 73 anos Fernando Teixeira emocionou a plateia do Teatro Jofre Soares – SESC Centro com seu consagrado solo Esparrela, do Grupo de Teatro Bigorna. Os espetáculos serão retomados nesta quinta-feira (17), às 20h, no Teatro Deodoro, onde a Agitada Gang – Grupo de Atores e Palhaços da Paraíba apresenta Como Nasce um Cabra da Peste. Na sexta (18), às 20h, o Milagre Brasileiro, do Coletivo de Teatro Alfenim, ocupa a Sala Preta do Espaço Cultural, na Praça Sinimbu. No dia 19, o período de apresentações do Festival de Teatro Brasileiro em Maceió será encerrado com o show do músico Chico César, DJ Chico Correia e o espetáculo de dança Nordestinidade, da Companhia de Projeções Folclóricas Raízes, na Praça Multieventos, orla de Pajuçara, a partir das 18h. O FTB conta com o patrocínio da Petrobras desde 2008. Todas as apresentações, inclusive os shows do músico Chico César e do DJ Chico Correia, são abertas ao público. O Festival é apresentado pelo Ministério da Cultura e sua etapa alagoana tem o apoio cultural do SESC, Secretaria de Cultura do Estado da Paraíba, Universidade Federal de Alagoas (Ufal), do Governo do Estado por meio da Diretoria de Teatros de Alagoas (Diteal), e daPrefeitura de Maceió por meio da Secretaria Municipal de Educação (Semed), com a co-realização pela Fundação Municipal de Ação Cultural (FMAC).