Pedro Cabral faz uma primeira exposição individual em Maceió, no dia 8 de outubro (quinta-feira), na galeria de arte Fernando Lopes (Cesmac), à rua Cônego Machado, s/n, bairro do Farol. A mostra – batizada “Razões do Coração” – seguirá até 6 de novembro, reunindo 50 quadros, que fazem, segundo o artista, “uma retrospectiva de duas décadas escondidas”. Cabral é professor de Arquitetura e Urbanismo na Ufal e autor de projetos arquitetônicos importantes na cidade como o Hospital do Coração de Alagoas. Nesse período de 20 anos, além de dar aulas na universidade, viajou, conheceu museus, pesquisou, estudou e participou, na capital, de várias exposições coletivas, incluindo as recentes “Amostra grátis” (2015), “Cadeiras” (2014) e o 29º Salão de Artes da Marinha (2013). Ele havia feito, há dois anos, a convite de um amigo, Carlito Lima, escritor e secretário de Cultura na vizinha Marechal Deodoro, uma exposição individual – durante a quarta Feira Literária, a Flimar, num salão da Casa de Marechal Deodoro, no município histórico distante 29 km ao Sul de Maceió. “Isso me colocou no mundo da individualidade, porém, não era um espaço provido de condições de exposição de arte”, explica o artista. “O prédio é histórico e não podia pendurar nada na parede. Eu tive de alugar cavaletes e geralmente eles ocupam muito espaço – não fica confortável uma exposição com cavaletes. A iluminação não era boa, era branca, as telas não ficavam realçadas adequadamente. A intenção era apenas de ajudar, participar, colaborar com o Carlito que foi gentil e atencioso comigo. Essa exposição que estou preparando agora é realmente a primeira.” No ateliê que ocupa um dos cômodos do apartamento, onde mora (no bairro litorâneo da Ponta Verde) com a mulher e musa, jornalista Goretti Lima, Cabral vai preparando as derradeiras telas que serão levadas à exposição. Diz que é filho da “modernidade”, que, segundo ele, “está num processo de extensão”. “A pós-modernidade nasceu nos anos 1960 – passou 20 anos sem ninguém saber dela, igual a mim”, afirma, divertindo-se, afirmando não haver “substância” ou “princípios” na pós-modernidade. “A modernidade tem princípios. Na Arquitetura tinha princípios, que você seguia e que por isso viraram hegemonia. Na pós-modernidade, a única coisa valorosa foi a diversidade. Ela sai de uma coisa presa, estilística, dominante, hegemônica, e vai para o pensamento plural, versátil, mais amplo. Isso a pós modernidade trouxe de valor, mas ainda não transformou em certos princípios estéticos que deem um embasamento à coisa. Estão pululando um monte de ideias. No início do século 20 também aconteceu isso, uma efervescência de correntes, cada uma querendo se afirmar, art-decó, art noveau, romantismo, o dadaísmo, o construtivismo, e nenhuma se afirmou. Chegou o modernismo, abrigou algumas correntes dessas e se firmou.” Para o artista, neste começo de século 21, vive-se “essa mesma efervescência”. “Será que se vai chegar a uma hegemonia? Ou a conceituação social hoje entende que tem de ter uma diversidade?”, questiona. “Toda minha escola eu parti do impressionismo para cá. Concentrei meu estudo no impressionismo, final do século 19. Monet, Lautrec, Van Gogh. As cores de Van Gogh, o amarelo, abracei o amarelo do Van Gogh com um carinho extraordinário. As pinceladas eu fui buscar de Monet. São vários tijolinhos que foram me ajudando a chegar ao que estou fazendo agora.” Entre todos esses tijolinhos, Cabral reconhece que o que lhe deu “mais força e coragem” foi o fauvismo, uma corrente de artes na França “que aconteceu rapidamente em 1905, já no século 20, e não teve nenhum manifesto”. “Durou somente um ano”, discorre, cheio de vigor e apetite, esse notável profissional de 59 anos, filiando-se às cores vibrantes de Matisse (1869-1954) e André Derain (1880-1954), “Eram uns quatro artistas. As cores deles, alegres, Foram para o Sul da França pra procurar o sol. Nós estamos no Nordeste, temos esse sol, a luz, as cores. As cores eram fortes, por isso foram chamados de “selvagens”, fauvistas. Mas não sigo in totum o fauvismo, pego um pouquinho de cada coisa, Picasso, Monet. Digamos que tentei formar uma espécie de neofauvismo, ou reestabelecer o neofauvismo que eu acho que já tem um neofauvismo por aí.”